
A despersonificação que a esquerda faz com o uso da palavra “capital” me parece uma tentativa de esconder que a essência dos males do mundo social encontra-se em um ponto que apenas as teorias econômicas neo-liberais parecem entender. Capital não toma decisões, capital não distribui produção, capital não produz, capital é algo sem vontade e sem identidade… criado, manipulado e usado por indivíduos… São seres humanos, tomados individualmente, que tomam decisões diárias em seu próprio interesse, assim como todo e qualquer indivíduo da espécie.
Ao usar o “capital” como um agente, estas pessoas procuram lavar suas mãos em relação ao que acontece à sua volta… Os males passam a ser atribuídos a um diabo moderno, intangível, inalcançável e poderoso… Mas na verdade, o que se esconde por trás das mazelas humanas nada mais é do que boas e más decisões, interagindo diariamente… Decisões que emergem de indivíduos, seres humanos dos mais diversos níveis que mudam poderosos, mudam mercados, mudam relações sociais…
No fundo, por trás do “capital”, por trás das classes, por trás da vida social, está cada um de nós, muitas vezes agindo de maneira divergente de nossas próprias pregações e perpetuando esta dinâmica…
A sugestão que deriva desta observação serve para esquerdistas, direitistas, religiosos etc… antes de vilanizar demônios inexistentes, pense que na verdade estes existem apenas para despersonificar ações de agentes reais, como cada um de nós. Cada pessoa, tomada individualmente, é de certa forma parte destes demônios intangíveis o que nos leva a uma autorreflexão a respeito de como nossas próprias decisões e ações têm contribuído para perpetuar tudo o que dizemos abominar ou até mesmo nosso próprio calvário.