
Há uma contradição essencial nos movimentos de esquerda, quando estes se colocam como guardiões das virtudes ao mesmo tempo em que defendem todo o relativismo do pensamento pós-moderno. O pós-modernismo não permite este tipo de posicionamento. Em uma perspectiva pós-moderna há espaço para uma pluralidade que foge ao racional e permite a emergência de todo tipo de pensamento, que vai do ideológico ao religioso, enquanto verdade relativa.
Ao se balizar no pós-modernismo, os movimentos de esquerda sacrificam a razão, abrindo espaço para que todo tipo de fé e valores voltem a triunfar como verdades incontestáveis. Mas se os movimentos de esquerda querem impor um conjunto de valores como sendo universais, então por que eles não defendem a razão e a objetividade para sustentar tais idéias? Por que alimentar o pós-modernismo como força motriz do conhecimento, mesmo sabendo que ele não é capaz de construir conhecimento objetivo e generalizável?
Simplesmente porque o pensamento defendido por estes grupos não sobrevive em um ambiente racional, ele só existe no campo da fé ideológica. Por isso os movimentos de esquerda se amparam no pós-modernismo e lutam tanto para destruir a racionalidade enquanto pilar para a construção do conhecimento. Mas isso cria um enorme paradoxo para estes movimentos, pois quando a razão é destruída emerge todo tipo de valores relativos para disputar espaço neste mundo de irracionalidade, valores que estes movimentos não estão dispostos a aceitar.
O ponto que os movimentos de esquerda ainda não perceberam, é que não tem como combater esses valores que têm se sobreposto a eles (como os conservadores e religiosos), sem destruir a própria esquerda. Os movimentos de esquerda vivem hoje um grande dilema, pois apenas a razão pode suplantar valores subjetivos e a fé ideológica e religiosa e o próprio movimento de esquerda não resiste diante da razão objetiva.