
Em termos gerais, existem duas formas de interpretar o mundo que nos cerca. Por meio de procedimentos científicos, pautados pela razão, e por meio daquela sensibilidade artística ou de adaptação social, ligada ao sentimento. Acontece que estas duas formas são constantemente confundidas, pois se ignora os aspectos psicológicos aos quais cada uma destas se refere.
A diferença da racionalidade da ciência e de uma abordagem artística ou de adaptação social, se dá em torno do eixo polar dos tipos psicológicos dados pela Razão e o Sentimento. Tanto os sentidos como a intuição, podem ser usados como ferramentas perceptivas para processar o mundo à nossa volta. Entretanto, a forma com a qual estas experiências perceptivas são trabalhadas pelo indivíduo, podem diferir dando ao conhecimento que o indivíduo formula e propaga, um caráter de racionalidade científica ou crença enraizada. Se o sentimento, a paixão, o fervor, o apego ou o senso de adequação social do pensamento (vulgo politicamente correto), são usados como mecanismo de avaliação, temos uma abordagem de cunho artístico ou de adaptação social. Se a lógica, o pensamento e a ordenação são utilizados, temos ciência.
Portanto, tanto ciência, como a arte e a adequação às relações sociais, podem ter a mesma fonte de informação. O que diferencia uma coisa da outra, é a forma estruturada, ou não, com a qual tratamos o que nos é dado por nossa experiência.
Sabendo-se desta distinção, fica evidente que muitos pensadores humanistas se utilizam dos mesmos princípios de processamento cognitivo sentimental, que pauta os conhecimentos religiosos. Se baseiam em sentimentos, em apegos por certas idéias, em uma dialética que lhes parece agradável para justificar suas escolhas diante das percepções sociais, sem estruturar logicamente aquilo que estão experimentando. Como resultados, temos uma série de propostas sociais tidas como científicas, mas que são carregadas de paradoxos, muitas vezes tão absurdos quanto aquilo que é visto nas abordagens religiosas.
É evidente que tais abordagens sentimentais também têm um papel nas relações humanas. O problema é que em muitos casos, elas acabam travestidas de falsa racionalidade científica. Isto desperta especial preocupação, principalmente quando estas são usadas para tomada de decisão com elevado impacto social e econômico. Em um contexto como este, é preciso o cuidado de distinguir entre a racionalização e a sentimentalização dos fatos, pois só assim é possível detectar aquilo que é ciência real e aquilo que não passa de mera pseudociência.